Com diversificação de atividades, tecnologias no agro se consolidam e alavancam desenvolvimento em MS

Mibriam Inbarie
Mibriam Inbarie

O agro sul-mato-grossense está na vanguarda tecnológica. Graças a ciência e aos produtores rurais, que acreditam na inovação e nas pesquisas e incorporam esse conhecimento ao seu dia a dia, nas últimas décadas ocorreu uma revolução no campo. A tecnologia possibilitou novas oportunidades de desenvolvimento e alavancou Mato Grosso do Sul nos cenários nacional e internacional.

Terras antes consideradas improdutivas, se transformaram em áreas férteis. O número de safras no mínimo duplicou e a produtividade das lavouras, graças aos bons tratos culturais e ao melhoramento genético, cresceu exponencialmente.

A partir da segunda década dos anos 2000, o processo tecnológico se acelerou. A produção agropecuária se tornou cada mais digital. Novos instrumentos e conceitos foram integrados, visando sempre produzir mais, da melhor forma e com sustentabilidade.

As novas tecnologias passaram a fazer parte do cotidiano do produtor, assuntos como: conectividade entre dispositivos móveis – a internet das coisas (IOT), comunicação de máquina para máquina (M2M), métodos computacionais de alto desempenho, rede de sensores, computação em nuvem e tomada de decisões baseada em análises de dados, entre outras.

Em Mato Grosso do Sul o agro 4.0 não é o futuro, já é uma realidade. Graças a essa realidade, o estado se consolida com um dos principais produtores brasileiros de grãos (soja e milho), de proteínas (carnes bovina, suína, de frango e de peixe) e de industrializados a partir de matérias-primas do campo, como a celulose, o açúcar e o etanol.

Tecnologia e capacitação, uma união necessária
O presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Rochedo e Corguinho, Alessandro Oliva Coelho, acredita que para o agro 4.0 ser uma realidade ainda mais presente no estado, a capacitação é essencial.

“A maior carência hoje é a preparação de mão de obra. Temos tecnologias disponíveis no mercado que é necessário ter muito conhecimento. Tem uma série de tecnologias de alto desempenho que estão sendo colocadas à disposição, como inteligência artificial, softwares de gestão, rede de sensores, que a gente só consegue atender com mão de obra qualificada”.

E para capacitar essa mão de obra, o presidente do SRCG aponta a parceria com outras instituições como fundamental.

“O Sindicato Rural de Campo Grande inovou e investimos na estrutura sindical, com foco na prestação de serviço. Buscamos parcerias com o Senar/MS e outras instituições para oferecer palestras técnicas, capacitação de mão de obra e apoio técnico, fazendo com que o produtor fique mais produtivo. As inovações tecnológicas vieram muito rápido e o produtor precisa estar preparado para produzir de maneira eficiente e com rentabilidade”.
Alessandro destaca que a união entre as entidades de Mato Grosso do Sul assegura um trabalho mais eficiente e com resultados assertivos.

“O alinhamento entre as entidades é algo fundamental para o sucesso da atividade do agronegócio no estado. Mato Grosso do Sul participa de um momento ímpar dentre as entidades onde temos grandes líderes realizando o trabalho de forma conjunta. Temos muitas pessoas competentes transformando as entidades e trabalhando de forma integrada”.

Agricultura

O grupo Matsumoto, com propriedades rurais em Chapadão do Sul, no nordeste do estado, é um exemplo da busca do setor por novas ferramentas tecnologias para incrementar a produção.

O diretor de produção da empresa rural, Paulo César Schlatter Matsumoto, explica que o grupo atua em diversos segmentos do agro. Na agricultura, planta soja, milho e cana-de-açúcar – como culturas principais e sorgo, milheto, nabo forrajeiro, crotalária ochroleuca, crotálária spectabilis, crotalária breviflora e Brachiaria, entre outras – como secundárias.

Paulo diz que desde o ano 2000 o grupo sempre investe em tecnologia e desde então vem incorporando novos instrumentos ao trabalho nas propriedades.

“Sempre buscamos investir em tecnologia para o campo, a partir do ano 2000, foi dado início à aquisição de maquinários (Tratores, pulverizadores e colheitadeiras) cabinados para uso no campo. No mesmo ano foram incorporados equipamentos de GPS Agrícola de Barra de Luz, hoje uma tecnologia simples, porém na época resultou na redução dos custos de produção, uma vez que houve uma redução significativa na sobreposição, permitindo ainda aplicações noturnas. Utilizado nos pulverizadores e distribuidores de fertilizantes e corretivos. Em 2002 foi iniciado o processo de substituição das plantadeiras mecânicas por plantadeiras pneumáticas, ou seja, distribuição de sementes por meio de vácuo, resultado em menores dados mecânicos na semente, melhor palatabilidade e aumentando o rendimento com maior velocidade, em torno de 2 quilômetros a mais no plantio”.

Ele diz que 2008 foi um “divisor de águas” para o grupo, sendo implantada a agricultura de precisão. “Passamos a identificar de forma detalhada toda nossa área, identificando as deficiências e melhorias necessárias. Este processo é desenvolvido com o mapeamento por meio de análises de solo georreferenciadas que possibilitam a prescrição precisa de corretivos de solo e fertilizantes. Sendo realizada a coleta em forma de “grid” a cada cinco hectares. Sendo possível gerar mapas de aplicação e com isso aplicar corretivos e nutrientes em taxas variáveis, ou seja, aplicar doses maiores nos locais onde há mais deficiência e doses menores, ou até mesmo não aplicar, onde os nutrientes estão elevados. Ainda em 2008 incorporamos o uso do piloto automático em nossos maquinários, aumentando nossa produtividade e a eficiência das operações na lavoura, ajudando também a melhorar a qualidade e a rentabilidade da área”.

Com um sucesso cada vez maior no uso das novas tecnologias, mais ferramentas inovadoras foram sendo utilizadas, entre elas os Mapas de Normalized Difference Vegetation Index (NDV), ou Índice de Vegetação Normalizada, que são mapas gerados a partir de dados obtidos por imagens de satélite e que permitem avaliar a quantidade de massa vegetal nas culturas, possibilitando uma análise mais aprofundada dos locais do talhão onde a vegetação é menor.

Colheitadeiras mais modernas foram adquiridas para possibilitar a elaboração de mapas de produtividade e a análise da variabilidade de produção dentro de um mesmo talhão.

Na empresa também foi colocado em prática o uso do ISOBUS, um padrão de comunicação internacional, que permite ao operador, ligar e controlar diferentes equipamentos utilizando um único terminal gráfico, chamado Universal Terminal (UT) para gestão de todos os instrumentos ISOBUS compatíveis, independente do fabricante.

Participou dos testes e uso da tecnologia Field View, uma Plataforma de agricultura digital baseada em ciência de dados, para auxiliar no gerenciamento das operações com mais eficiência durante toda a safra, do plantio à colheita, com acesso facilitado às informações por meio de aplicativo para dispositivos móveis, garantindo acesso ilimitado em qualquer hora e lugar.

Podendo assim, identificar problemas agronômicos durante a safra. Também passaram a adotar o uso da telemetria nas máquinas, uma ferramenta muito importante para a gestão e monitoramento do trabalho.

Outras práticas tecnológicas aplicadas na propriedade:

  • Instalação de estação meteorológica na propriedade, promovendo mais precisão na previsão, em relação a regional, auxiliando na melhor janela de pulverização e tendo acesso remoto das informações;
  • Uso dos kits de plantio e o Monitor 20|20 da Precision Planting nas plantadeiras, o que possibilitou a obtenção de dados em tempo real como população, espaçamento e singulação “Índice de falhas e duplas”;
  • Uso da tecnologia Farm Box, que auxilia na gestão do campo, utilizam desde o planejamento da safra até a colheita. Esta tecnologia entrega muitas informações, como dados de pluviometria e monitoramento dos técnicos de campo georreferenciados para melhor avaliação no nosso Manejo Integrado de Pragas (MIP), controle de estoque e de custo de produção, além de informações sobre aplicações, plantio e demais informações sobre a lavoura, com isso, toda decisão que antes poderia durar dias, por conta das informações organizadas, são feitas de maneira mais rápida e precisa;
  • Uso da tecnologia de Pulverização Localizada, WEED-IT QUADRO (o primeiro a utilizá-la no estado). O equipamento coopera com o meio ambiente e com a sustentabilidade, utilizando na dessecação pré-plantio safra e safrinha, na operação de dessecação pré-plantio safra. A economia ficou em torno de 60% e na dessecação pré-plantio do safrinha alcançamos a economia de 73%, além da utilização também na desfolha da soja, conseguindo uma economia de 51%;
  • Na safra 2022/2023, a convite da Fundação Chapadão, a propriedade participou com a Smart Consultoria Agronômica e Serviços Agrícolas do Grupo de Trabalho que está desenvolvendo um projeto com uso de visão computacional para monitoramento de perdas na colheita de soja. O objetivo do projeto é reduzir perdas na colheita da soja por meio de um monitoramento eficiente e automatizado, utilizando sistemas embarcados e visão computacional;
  • Na próxima safra vão utilizar a tecnologia UNIMAP, nos pulverizadores. A tecnologia entrega conhecimento em tempo real para todos os integrantes do processo, operador (ponto chave), gestores e gerentes, proprietário, tudo em tempo real. O resultado alcançado com o uso da tecnologia é o menor desperdício e maior qualidade na aplicação dos defensivos agrícolas, trazendo maior produtividade, assertividade e segurança no processo produtivo.

Na avaliação de Paulo, a tecnologia será cada vez mais importante para a sustentabilidade do agronegócio.

“Contribuirá muito para elevar os índices de produtividade, da eficiência do uso de insumos, da redução de custo com mão de obra, para melhorar a qualidade do trabalho e a segurança dos trabalhadores e diminuir os impactos ao meio ambiente, com terras cada vez mais escassas o desafio é aumentar a produção agrícola sem ampliar a área plantada significativamente. Atualmente ainda existem muitos produtores sem aptidão para a evolução, estes produtores precisarão se atualizar a longo prazo para otimizar sua produção, caso contrário correm o risco sim de ameaçar seu negócio, uma vez que o produtor que não investir na tecnologia, causará um impacto ambiental maior, colocando em risco até mesmo a qualidade do seu produto, além de ser menos eficiente e menos produtivo com custo superior”.

O consultor técnico do Sistema Famasul, Lennon Henrique Lovera, aponta que as tecnologias do agro 4.0 estão disponíveis para todos os tipos de produtores, do pequeno, passando pelo médio, até o grande.

“O uso dessas ferramentas depende da gestão. Antes de implementar vai ter que fazer um levantamento de custos e dos investimentos e ver qual resultado vai atingir em sua propriedade, Existem linhas de financiamento, de crédito agrícola, para que o produtor tenha essa tecnologia a curto prazo em sua propriedade e consiga, com o aumento da produtividade e redução dos custos, compensar esse valor investido”.

Para auxiliar o produtor no processo de implementação e uso das ferramentas digitais, o consultor diz que o Sistema Famasul, por meio do Senar/MS, dispõe do trabalho da Assistência Técnica e Gerencial (ATeGs) para diversas cadeias produtivas, além da agricultura, e ainda de cursos, capacitações e eventos. Somente no ATeG Grãos, por exemplo, são atendidos 879 produtores em Mato Grosso do Sul.

De acordo com a entidade, entre as principais tecnologias utilizadas pelos agricultores do estado estão: agricultura de precisão, adubação e plantio em taxa variável, drones para mapeamento e aplicação, pivô central automatizado, telemetria, piloto automático, fiel view, mapa de produtividade, sensores para geração de dados, dentre outros.

O consultor aponta que a tecnologia está em constante evolução e projeta no futuro a robotização. “Já temos drones que fazem voos automáticos. É tudo totalmente autônomo. O produtor, vai dar o comando do seu smartphone ou seu computador e a máquina fará o plantio ou a colheita totalmente automática, sem operador. Tudo com georreferenciamento e passando as informações para um banco de dados que analisará as informações”, comenta.

Cana-de-açúcar

Mato Grosso do Sul está no top cinco do setor sucroenergético brasileiro. Está entre os maiores produtores de cana-de-açúcar, etanol, açúcar e exportação de bioeletricidade. Esse crescimento vem ocorrendo alicerçado no uso de novas tecnologias e se acelerou a partir do fim da primeira década dos anos 2000.

Um exemplo é o da Raizen. A empresa possui quatro usinas sucroenergéticas em operação no estado, uma construída pela própria empresa em Caarapó e outras três adquiridas da Biosev, em Rio Brilhante e Maracaju, em 2021.

“Nos últimos anos fizemos diversos investimentos em pesquisas e desenvolvimento relacionados à agricultura 4.0. Atualmente, temos soluções tecnológicas em todas as esferas da companhia: na indústria, a Raízen utiliza tecnologia na integração de dados para padronizar processos, reduzir custos e obter ganhos em sustentabilidade, como gêmeos digitais, em que é possível testar diferentes situações em um protótipo online idêntico ao físico, e o Controle Avançado, que reduz a instabilidade do processo; já na agrícola fazemos, por exemplo, a aplicação localizada de corretivos, fertilizantes e herbicidas, monitoramento da produtividade e controle de tráfego do maquinário em campo de forma remota e o mapeamento da infestação de plantas daninha por meio de drones, entre outras soluções”, explica o diretor agroindustrial da companhia em Mato Grosso do Sul, Leandro Melo.

Ele explica que a empresa possui ainda programas que ajudam financeiramente os produtores rurais que são fornecedores de cana (parceiros), o Jornada Cultiva e o Elos Raízen. Essas iniciativas contemplam desde inovações agrícolas voltadas à produtividade, como georreferenciamento para o plantio e aplicação de defensivos e fertilizantes, até contato com agtechs, para facilitar o acesso a crédito rural com juros menores.

“Nosso objetivo é evoluir cada vez mais no quesito automação, sempre unindo os conceitos de agricultura 4.0 com indústria 4.0. para coletar informações em tempo real, reduzir erros, otimizar as operações e garantir uma melhor tomada de decisão”, ressaltou.

Melo ressalta que a implementação de novas tecnologias e busca por aumento de produtividade ocorre sempre alicerçada no viés da sustentabilidade.

“Mais do que nunca, é preciso respeitar as características do solo e implantar métodos mais eficientes de conservação, sempre observando cada realidade produtiva, definindo o período ideal de corte das áreas e critérios varietais, operacionais e logísticos”, destaca.
O diretor aponta que uma das principais técnicas utilizadas no estado pela empresa e parceiros é a da cana regenerativa, um modelo de produção que contempla rotação de culturas, a diminuição da aragem no solo, redução da entrada de maquinário nos canaviais, uso dos resíduos para energia, utilização dos resíduos diretamente nos campos, compostagem torta com bagaço da cana-de-açúcar, além da diminuição do uso de herbicidas e de produtos químicos.

“Vale lembrar que a cana é uma das culturas que usa a mais tempo o conceito de controle biológico de pragas. Tem um apelo gigante de custo, resultado e benefícios ambientais. A agricultura como um todo está entrando em uma nova era, saindo dos químicos para entrar nos biológicos”, analisou.

Com essa preocupação, o diretor projeta, que de maneira orgânica, a empresa deve ampliar nos próximos anos sua produção de cana entre 10% e 15%.

No ciclo passado, a empresa moeu no estado 12 milhões de toneladas de cana-de-açúcar para produzir 500 mil toneladas de açúcar, 480 mil metros cúbicos de etanol e 470 mil MWh de energia exportada para o sistema.

Segundo o diretor-executivo da Associação de Produtores de Bioenergia de Mato Grosso do Sul (Biosul), Érico Paredes, o setor está em sua terceira fase de expansão no estado.

“Hoje, em sua terceira fase de expansão, podemos dizer que o setor sucroenergético se consolidou como um dos principais segmentos agroindustriais. Não apenas em termos de produção, mas também como um importante pilar de práticas sustentáveis que alia produção e preservação dos recursos naturais, além dos aspectos sociais e econômicos, com a geração de empregos formais, capacitação de mão-de-obra e desenvolvimento econômico nos municípios onde as usinas estão instaladas”, analisou o diretor-executivo.

Nos últimos vinte anos, o setor tem registrado uma significativa ascensão ligado diretamente à sustentabilidade.

“Do campo à indústria, temos exemplos de mudanças que impactaram principalmente na preservação dos recursos naturais, na melhoria da produtividade dos canaviais, no reaproveitamento dos resíduos industriais, que agora são subprodutos, além da compensação do dióxido de carbono emitido ao longo da produção, que é absorvido pela cana-de-açúcar que está no campo”, destacou Érico.

Alguns exemplos dessa mudança são:

  • Mecanização da colheita dispensando o uso do fogo : Pioneiro no Brasil, Mato Grosso do Sul foi um dos primeiros estados a se adequar 100% na prática de colheita com máquinas, dispensando o uso de fogo que degradava o solo. Atualmente a prática é feita por colhedoras dotadas de tecnologia e mão-de-obra profissionalizada para a função;
  • Vinhaça utilizada como adubo orgânico para o solo: O uso da vinhaça como adubo trouxe redução da captação de água para irrigação, além de reduzir o uso de fertilizantes químicos e melhorar a produtividade do canavial;
  • Controle Biológico de pragas: A redução do uso de defensivos químicos e a redução do risco à saúde humana são algumas das vantagens apontadas para o uso do controle biológico. Essa prática com drones também trouxe uma melhora na logística e no custo da operação;
  • Uso da palha e bagaço para geração de bioeletricidade: Esses dois resíduos são reaproveitados a partir do processo de produção de etanol e açúcar, ou seja, aqueles que eram antes descartados hoje são reutilizados para a geração de energia elétrica. Ainda conforme a Biosul, a quantidade de energia elétrica produzida a partir do bagaço da cana (bioeletricidade) em 2022, iluminaria todas as residências do Mato Grosso do Sul por um ano inteiro;
  • Uso da palha para conservação do solo: Essa prática provoca aumento e estabilização da umidade na área, elevação dos teores de matéria orgânica no solo, muda também a fertilidade e a temperatura do solo, trazendo maior eficácia no controle da erosão. São esses os principais benefícios do uso da palha como proteção do solo nas lavouras de cana;
  • Torta de filtro: Considerado um subproduto para substituição de químicos na nutrição dos canaviais, o resíduo proveniente da filtração do caldo extraído das moendas aumenta a produtividade agrícola, reduzindo contaminação e custos de adubação, nutrindo o plantio com fósforo, nitrogênio e cálcio.

Bovinocultura

A integração da tecnologia em uma fazenda de mil hectares em Rochedo (MS), foi o caminho mais assertivo na produção do gado de corte que o pecuarista Flavio Abdo encontrou.

“Desde que eu me entendo por gente eu trabalho com a pecuária, o negócio tem passado por minha família de geração para geração e é claro que ao longo do tempo fui presenciando a evolução na forma de produzir, e agora estamos vivendo o momento do Agro 4.0”, explica Flavio.

Segundo dados do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA/IBGE) em março, Mato Grosso do Sul avançou na produção de carne e diminuiu o rebanho. Isso se deve a eficiência dos pecuaristas, cada vez mais produtivos e sustentáveis.

Em 2023, o estado possui um rebanho de 17,61 milhões de cabeças, estando em quinto lugar no quantitativo nacional.

Há cerca de oito anos, o produtor implantou brincos eletrônicos/chips de monitoramento na orelha do gado para melhorar o monitoramento e tornar eficiente a solução das necessidades de cada animal.

A tecnologia permite armazenar e monitorar os dados de cada animal, como peso, como o animal está se alimentando, localização entre outras informações, que podem ser monitoradas pelo celular. A aplicação é realizada da mesma forma que no brinco tradicional, com o posicionamento na parte central da orelha para evitar danos nas nervuras principais.

“Desde que implantamos uso do chip na fazenda, consigo ver como a produção melhorou, otimizamos o trabalho e eu acelerei o tempo de engorda do gado. Essas implantações tecnológicas são o que vai mudar a pecuária nas próximas duas décadas”, relata.
Flávio conta que desde a implantação do dispositivo ele consegue monitorar as mil cabeças de gado pelo celular e isso tem facilitado a dinâmica da fazenda.

“Consigo acompanhar tudo do meu celular de qualquer lugar que eu esteja, o principal benefício hoje, é os acompanhamentos remotamente, o banco de dados que conseguimos reunir dos nossos animais e a margem do negócio”.
Mas o pecuarista afirma que a pesar da tecnologia ser importantíssima, a mão de obra humana é essencial para a pecuária.

“Eu acho importante falar que apesar de todo o avanço, ainda, sim, precisamos da mão de obra humana na produção. Mesmo conseguindo ter o monitoramento por câmeras e drones, ainda se faz necessário ter profissionais ali no campo, acompanhando os animais, o desenvolvimento diário e fazendo ajustes que só uma pessoa conseguiria fazer”, reafirmou.

Futuro e inovação

Entre os recursos mais usados na Pecuária 4.0 estão; chips, dispositivos, drones, monitoramento por câmeras, softwares de controle de manejo e a internet. Veja o infográfico acima.

O diretor do Sindicato Rural de Campo Grande, Jean Paul Huang, explica que o 4.0 é uma mudança de visão da realidade no campo. Para ele, a integração de tecnologias no dia a dia da produção pecuarista em Mato Grosso do Sul e no Brasil, fez o setor se destacar e ganha-se reconhecimento ao nível mundial.

“A Pecuária 4.0 não é algo fora da realidade dos nossos produtores, existem tecnologias super revolucionarias, mas também é o uso de recursos simples que fazem a diferença, a internet nas fazendas é um desses exemplos, antes você precisava de dias para conseguir consertar algum maquinário, agora você faz isso quase que instantaneamente pelo WhatsApp, é algo simples, mas que torna eficiente nossa produção, pois otimiza o tempo”.

Maior produtividade e lucro

Adepto a criação no semiconfinamento — também conhecido como engorda a pasto de bovinos — uma estratégia alimentar para complementar e corrigir as deficiências nutricionais que as pastagens apresentam, Flavio explica que as tecnologias tem sido aliadas da produtividade em sua fazenda e menor desperdício de recursos.

“Há 15 anos a média de abate dos animais era em torno de 5 a 6 anos, hoje já conseguimos fazer isso com animais com menos de 2 anos, ou seja, 24 meses, então consegui aumentar a desempenho do meu rebanho e, em contrapartida, diminui meus gastos. Para um pequeno produtor isso é muito significativo”.

Conforme o presidente da Associação Sul Mato-grossense de Produtores de Novilho Precoce, em 2023 a expectativa é que 160 mil cabeças sejam encaminhadas à indústria frigorífica, um avanço de 40% em relação ao ano anterior.

“Na produção podemos ver no quantitativo dentro de nossa Associação, devemos atingir 160 mil cabeças encaminhadas à indústria frigorífica, um avanço de 40% em relação ao ano de 2022, quando os produtores abateram 114.161 cabeças e a maioria desses animais possuem 36 meses.”

Capacitação

De acordo com Jean Paul Huang, para se ter uma Pecuária 4.0 não basta apenas ter a vontade de integrar o campo a tecnologias, mas é preciso mão de obra capacitada.

“Com o passar dos anos, nós temos notado cada dia mais a procura de capacitação por parte dos produtores. Eles buscam por cursos para seus colaboradores e isso é muito importante, uma vez que se você tem a tecnologia, mas não tem o conhecimento, não terá avanço algum em sua propriedade, para fazer parte da Pecuária 4.0 é preciso estudar e atualizar os conhecimentos”.

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